domingo, 18 de julho de 2010

Eu e a "supernany"

Tenho achado engraçado como, ultimamente,alguns pais que procuram terapia para seus filhos, chegam ao meu consultório com a idéia de que eu serei uma " Supernany",referindo-se à um programa da televisão inglesa copiado por uma emissora brasileira. Alguns declaram que é exatamente isto que estão procurando e ja ouvi até proposta para frequentar a casa da família.
Mesmo com  meus 23 anos de profissão ainda me causa certo desconforto ouvir as comparações que fazem da psicologia com as  mais esdrúxulas coisas ou situações.  Os mais velhos talvez se lembrem de uma propaganda de maionese, veiculada na TV, onde a personagem que representava a mãe, afirma que usava psicologia na alimentação de seu filho. A tal psicologia era uma boa colherada de maionese. Ok, cinco anos de estudos, período integral, fora as especializações, workshop, trabalho pessoal, tudo reduzido a uma fatia de pão. No entanto, nessa época, felizmente, ninguem recorreu a mim sugerindo que eu representasse o papel de maionese como pedem, hoje, que eu represente a " supernany".
Bom pessoal, eu não sou a "supernany" e nem a "supernany" é psicologa. Ela, eu, pais e professores podem ser educadores, mas exercem papeis muito diferente na vida das crianças.
Educar uma criança pede três condições: amor, autonomia e limites.  Educar é amar e amar é compreender a criança em sua própria condição, ou seja, respeitando sua fase de desenvolvimento e seus sentimentos. A maioria dos adultos cobra resposta de adultos das crianças, ou, pior ainda, desqualificam suas emoções por considerarem bobagens os sentimentos infantis. Isso não é amar.
Educar é, também, dar autonomia. Permitir que a criança descubra seus próprios caminhos, cometa seus próprios erros, enfrente desafios, que ouse e se arrisque. A criança superprotegida, impedida de vivênciar novas experiências não consegue crescer adequadamente, tem medo da vida. Dar autonomia, no entanto, não é deixar fazer tudo o que ela quer. É aqui que o terceiro plar entra em ação. Educar é dar limites, estabelecer os contornos dos riscos que elas são capazes de correr, quais experiências são significativas para cada faixa etária. É com o limite claro e preciso que a criança aprende a respeitar e pedir respeito , aprende, sobretudo, valores.
Quem conhece esses três princípios será um bom educador. Se houve falha na aplicação de qualquer um deles,aí sim uma "supernany" poderá auxiliar os pais a encontrar os pontos onde a falha ocorreu.
Terapia é outra coisa, muito deiferente disso. A criança que necessita de terapia é aquela que se perdeu de sí mesma, ou que ainda não conseguiu formar sua identidade de maneira eficiente para lidar com as situações de sua vida. Essas crianças chegam ao consultório confusas, ou irritadas, ou agressivas, com problemas de relacionamento,problemas na escola ou ainda com diagnósticos incorreto de hiperatividade ou défict de atenção, quando, realmente, só estão tentando se entender.

Cabe ao psicologo caminhar junto com essa criança, utilizando sua técnica dentro de um ambiente protegido, onde é permitido à criança explorar seus sentimentos, suas potencialidades, suas angústias, sem medo. Nisso a criança se descobre. A criança em terapia vai, paulatinamente, aprendendo a identificar suas sensacões e sentimentos e assim, torna-se capaz de rasgar os rótulos que lhe foram indevidamente outorgados e impediam-na de ser.
Para mim, particularmente, ser terapeuta de crianças é uma experiência maravilhosa, pois vejo, diariamente, brotar naquela pessoinha o que virá a ser um ser-humano capaz de viver sua plenitude. Nesse processo muitas vezes oriento pais e professores, tornando-me porta-voz dos sentimentos daquela criança, minimizando as dores que o crescer pode trazer para ambos os lados.
Na minha atuação o foco é sempre a criança que se torna suficientemente dona de sí, para seguir seus próprios caminhos.
Isso a "supernany" não faz!

Um comentário:

  1. Nilce:

    Achei muito lúcido e educativo o seu artigo "Eu e a Supernany".

    A primeira coisa que o profissional competente faz, em qualquer campo, é primeiramente buscar por soluções e condutas simples; verificar se há carência do básico !

    Esgotado este estágio, aí sim, deve-se recorrer a outros recursos, geralmente mais complexos.

    Confunde-se complicação com complexidade e pior, pensa-se que complicar é sofisticar.

    Seus comentários apontam para esta lucidez e convidam a uma reflexão de conduta e abordagem tanto de pais como de profissionais na lida com crianças.
    Creio que este conceito por ser ampliado para muitas relações que envolvem, preliminarmente, o entendimento, o respeito e o acolhimento.
    Está assim, na lida com as crianças a semente das relações humanas em geral.Pelo menos aquelas relações que são sadias e devem ser perpetuadas.
    Como poderia ser o contrário?

    Parabéns
    Hamilton Aidar
    Coach para Profissionais

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